FEBRE TIFÓIDE
ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS
Doença bacteriana aguda, cujo quadro clínico apresentase geralmente com febre alta, cefaléia, mal-estar geral, anorexia, bradicardia relativa (dissociação pulso-temperatura, conhecida como sinal de Faget), esplenomegalia, manchas rosadas no tronco (roséola tífica), obstipação intestinal ou diarréia e tosse seca. Pode haver comprometimento do sistema nervoso central. A administração de antibioticoterapia mascara o quadro clínico, impedindo o diagnóstico precoce e etiológico. A Febre Tifóide tem distribuição mundial e está associada a baixos níveis socioeconômicos, principalmente a precárias condições de saneamento.

• Salmonelose e infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV): A bacteremia recorrente por Salmonella constitui uma das condições clínicas consideradas como marcadora de aids em indivíduos HIV positivos. Em regiões onde a Salmonella typhi é endêmica, a incidência de Febre Tifóide pode ser de 25 a 60 vezes maior entre indivíduos HIV positivos. Esses indivíduos, quando assintomáticos, podem apresentar doença semelhante ao imunocompetente e boa resposta ao tratamento usual. Doentes com aids podem apresentar Febre Tifóide particularmente grave e com tendência a recaídas.

Agente etiológico - Bastonetes gram negativos do gênero Salmonella, família Enterobacteriacea. Possui, na superfície da parede celular um lipopolissacarídeo que contém o antígeno O e, nos flagelos, o antígeno H, os quais determinam os sorogrupos (A,B,C,D). A S. typhi pertence ao Sorogrupo D.

Reservatório - O homem doente ou portador assintomático.

Modo de transmissão - Doença de veiculação hídrica e alimentar, cuja transmissão pode ocorrer pela forma direta, pelo contato com as mãos do doente ou portador, ou forma indireta, guardando estreita relação com o consumo de água ou alimentos contaminados com fezes ou urina do doente ou portador. Os legumes irrigados com água contaminada, produtos do mar mal cozidos ou crus (moluscos e crustáceos), leite e derivados não pasteurizados, sorvetes, etc. podem veicular salmonelas. A contaminação de alimentos, geralmente, é feita por portadores ou pacientes oligossintomáticos.

Período de incubação - Comumente, de 1 a 3 semanas; em média, 2 semanas.

Período de transmissibilidade - A transmissibilidade se mantém enquanto existirem bacilos sendo eliminados nas fezes ou urina, o que ocorre, geralmente, desde a primeira semana da doença até o fim da convalescença. A transmissão após essa fase dá-se por períodos variáveis, dependendo de cada situação. Sabe-se que cerca de 10% dos pacientes continuam eliminando bacilos por até 3 meses após o início da doença. A existência de portadores é de extrema importância na epidemiologia da doença: 2% a 5% dos pacientes após a cura continuam eliminando S. typhi por períodos maiores, principalmente mulheres adultas, com histórico de litíase biliar, constituindo-se nos chamados portadores. Tanto em doentes quanto em portadores, a eliminação da S. typhi costuma ser intermitente.

Complicações - A principal é a hemorragia intestinal e, mais raramente, perfuração intestinal.

Diagnóstico - Clínico-epidemiológico e laboratorial. Esse último baseia-se no isolamento e identificação da S. typhi, nas diferentes fases clínicas: hemocultura, com maior positividade na primeira e na segunda semanas; coprocultura, da segunda a quinta semana; mielocultura, cuja positividade ocorre durante todo o período da doença; e urocultura, de valor limitado.

Diagnóstico diferencial - Enterites de outras etiologias, como Salmonella paratyphi A, B, C, tuberculose, malária, leptospirose, meningoencefalites, septicemias por agentes piogênicos, peritonite bacteriana, forma toxêmica da esquistossomose, mononucleose infecciosa, toxoplasmose e endocardites.