FEBRE MACULOSA BRASILEIRA
ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS
Doença infecciosa febril aguda, que pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, mesmo por profissionais bastante experientes. Pode apresentar um curso clínico variável, desde quadros clássicos a formas atípicas, sem exantema. O início, geralmente, é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos, incluindo: febre, cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença, surge o exantema maculopapular, um importante e fundamental achado clínico, porém sua presença não deve ser considerada a única condição para fortalecer a suspeita diagnóstica, pois pode estar ausente, o que dificulta e retarda o diagnóstico e tratamento, determinando maior número de óbitos. Nos casos graves, é comum a presença de edema de membros inferiores, hepatoesplenomegalia, manifestações gastrintestinais, como náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia, manifestações renais com oligúria e insuficiência renal aguda, manifestações pulmonares com tosse, edema pulmonar, pneumonia intersticial e derrame pleural, manifestações neurológicas e hemorrágicas, como petéquias, sangramento muco-cutâneo, digestivo e pulmonar. Pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves. Cerca de 80% desses, se não diagnosticados e tratados a tempo, evoluem para óbito.

Sinonímia - Pintada, febre que pinta, febre chitada.

Agente etiológico - A Rickettsia rickettsii, espiroqueta da família Ricketisiaceae, bactéria gram-negativa, parasita intracelular obrigatória.

Reservatório - No Brasil, o principal reservatório da Rickettsia rickettsii são os carrapatos do gênero Amblyomma (A. cajennense, A. cooperi ou dubitatum e A. aureolatum). A participação de eqüídeos no ciclo de transmissão é discutível, porém há evidências de que, além de transportadores de carrapatos potencialmente infectados, eles podem atuar como sentinelas, semelhantemente ao cão, que é um reservatório doméstico potencial. Acredita-se que a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), também, pode estar envolvida neste ciclo, mas não existem estudos que comprovem ser esse roedor um reservatório silvestre de Rickettsias.

Modo de transmissão - A febre maculosa brasileira é, geralmente, adquirida pela picada de carrapato infectado e a transmissão ocorre se o artrópode permanecer aderido ao hospedeiro por, no mínimo, de 4 a 6 horas. A doença não se transmite de pessoa a pessoa.

Período de incubação - De 2 a 14 dias (em média, 7 dias).

Período de transmissibilidade - Os carrapatos permanecem infectados durante toda a vida, em geral de 18 meses. A partir de um carrapato infectado, outros podem tornar-se infectados, por meio da transmissão vertical (transovariana), transmissão estádio-estádio (transestadial) ou transmissão através da cópula.

Diagnóstico - Dados clínicos e epidemiológicos associados a achados laboratoriais reforçam o diagnóstico da doença. A cultura com isolamento da Rickettsia é o método diagnóstico ideal. A reação sorológica de imunofluorescência indireta (RIFI), utilizando antígenos específicos para R. rickettsii, é o mais utilizada. Deve ser considerado como confirmatório um aumento de 4 vezes no título em uma segunda amostra colhida, pelo menos, 2 semanas após a primeira. Outros métodos utilizados são a reação em cadeia da polimerase (PCR) e a imunohistoquímica.

Diagnóstico diferencial - O diagnóstico precoce é muito difícil, principalmente durante os primeiros dias da doença, quando as manifestações clínicas também podem sugerir leptospirose, sarampo, febre tifóide, dengue, febre amarela, meningococcemia, febre purpúrica brasileira, doença de Lyme e sepses.